2019

O Ano Em Revista

Mensagem do Presidente

Leia a mensagem de Pedro Soares dos Santos, Presidente do Grupo Jerónimo Martins.
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"Num enquadramento global de elevada incerteza e exigência, destaco o desempenho de todas as nossas insígnias, que conseguiram reforçar as suas quotas de mercado em 2019."

Caros Stakeholders,

O mundo viveu em 2019 tempos de grande incerteza, acentuada pela crise do multilateralismo e pela agudização da tendência para a polarização das sociedades.

Em escalada desde há cerca de dois anos, o braço-de-ferro comercial entre as duas maiores potências económicas globais – EUA e China – foi conhecendo avanços e recuos, mas a incerteza constante levou a China a registar o pior crescimento económico em quase três décadas. A nível mundial, houve também uma desaceleração, com as empresas a adiarem investimentos. Uma previsão do Banco Mundial no final do ano estimava que, se o conflito comercial entre os Estados Unidos e a China se agravar, isso poderá romper cadeias de abastecimento, não só bloqueando o desenvolvimento dos países mais vulneráveis como, no pior cenário, empurrando mais de 30 milhões de pessoas em todo o mundo para baixo da linha da pobreza.

A primeira fase do acordo negociado exige que a China suavize algumas tarifas e aumente significativamente as suas compras aos EUA, adquirindo, até 2021, mais 200 mil milhões de dólares de produtos industriais e agrícolas, energia e serviços. Ao mesmo tempo, o acordo procura garantir maior protecção para a tecnologia e segurança nacional norte-americanas, designadamente pelo aumento do escrutínio relativamente aos investimentos e tecnologia chineses. Isto gera natural preocupação na Europa, onde o abrandamento económico foi também uma realidade.

Por outro lado, o acordo não altera as tarifas que a Administração americana impôs sobre bens chineses no valor de 360 mil milhões de dólares, mantendo-se um ambiente de ameaça de represálias adicionais caso a China não cumpra os termos do acordo. Este contexto internacional, marcado pela tensão e pela imposição de decisões unilaterais, condiciona o regime de comércio livre e, por essa via, prejudica sobretudo os agregados familiares com rendimentos mais baixos, que são também os mais desprotegidos quando há ameaças económicas globais.

A Europa, onde Jerónimo Martins tem os seus dois principais palcos de operações, viveu também bastante inquieta pela incerteza sobre o Brexit, que se manteve muito presente. Já na parte final do ano, a realização de eleições ajudou a clarificar a situação, mesmo se é ainda uma incógnita o verdadeiro impacto que a saída do Reino Unido da União Europeia terá.

É expectável que esta saída venha a reforçar a importância político-económica da Polónia, a pátria da nossa Biedronka, no seio da União Europeia. Embora em 2019 o país tenha registado um abrandamento da economia face a 2018, o ritmo de crescimento foi acima dos 4%, com a fraqueza da economia alemã a ser em parte compensada pelo aumento do consumo privado e por uma política orçamental expansionista.

"A Europa, onde Jerónimo Martins tem os seus dois principais palcos de operações, viveu também bastante inquieta pela incerteza sobre o Brexit."

Em Portugal, cuja economia é muito aberta ao exterior, a travagem é evidente e o país aparenta preparar-se para passar vários anos com um crescimento económico inferior a 2%. Além disso, tardam as reformas estruturais que aliviem o peso do Estado na economia, garantam maior celeridade na Justiça e preparem o país para a revolução digital em curso.

Na América do Sul, outra geografia fundamental para Jerónimo Martins, 2019 foi um ano de instabilidade social e política. A tensão, que ganhou por vezes contornos bastante violentos nas ruas, foi transversal a uma série de países, desde logo o Chile – que habituara o mundo a ser o país latino-americano mais ordeiro e com uma economia mais robusta –, a Bolívia, o Equador, o Perú, o Paraguai e, em certa medida, o México, que se bate com o grave problema do narcotráfico.

Na Venezuela, onde o líder da oposição Juan Guaidó se autoproclamou Presidente interino, Nicolás Maduro manteve-se no poder, continuando incerto o rumo político de um país cuja situação económica não pára de degradar-se, provocando o êxodo de milhões de cidadãos. Estima-se que tenham entrado na Colômbia até ao final de 2019, perto de 2 milhões de venezuelanos, recebidos com solidariedade pelo Governo e pelo povo colombianos. No difícil contexto actual da América Latina, e apesar de ter desafios próprios, a Colômbia é hoje um dos poucos países da região onde a Lei e o Estado de Direito imperam.

Neste enquadramento global de elevada incerteza e exigência, entendo que assume relevo destacado o desempenho de todas as nossas insígnias, que conseguiram reforçar as suas quotas de mercado em 2019, o que demonstra que a justeza da estratégia que temos vindo a seguir nos vários mercados é confirmada pelos consumidores.

As vendas totais do Grupo aumentaram 7,5% para os 18,6 mil milhões de euros, traduzindo a capacidade de, uma vez mais, somarmos mais de mil milhões de euros – em rigor, mais 1,3 mil milhões – às vendas do ano anterior.

No ano em que assinalámos o 30.º aniversário da nossa entrada na Bolsa de Valores de Lisboa com a celebração do muito valor que criámos ao longo destas três décadas, superámos, pela primeira vez, os mil milhões de euros de EBITDA, o que considero um feito importante. De facto, o EBITDA consolidado atingiu 1.045 milhões de euros, 8,9% mais do que em 2018 e acima do crescimento das vendas.

Os resultados lucros líquidos atribuíveis a Jerónimo Martins aumentaram 7,9% face a 2018, o que nos permitiu entregar um pre-tax ROIC superior a 28%.

"No ano em que assinalámos o 30.º aniversário da nossa entrada na Bolsa de Valores de Lisboa, superámos, pela primeira vez, os mil milhões de euros de EBITDA."

Estes resultados são tanto mais expressivos quanto foram alcançados num ano em que voltámos a rever em alta os salários e benefícios dos nossos colaboradores nos três países.

Em 2019 investimos 678 milhões de euros, o que nos manteve como um investidor de grande relevância em qualquer uma das geografias onde operamos. Daqueles, 32% foram destinados à expansão, e o restante dirigido a projectos de remodelação e manutenção das operações das redes de lojas e dos Centros de Distribuição.

Na Polónia, a Biedronka executou um plano de investimento de 388 milhões de euros, tendo adicionado 102 lojas à sua rede, superando o marco das 3.000 lojas e fechando o ano de 2019 com 3.002 localizações, mais de 50% das quais abertas ou remodeladas nos últimos cinco anos.

Num país cujo ambiente de consumo se manteve favorável, com uma inflação alimentar de 4,9%, a Biedronka cresceu 7,9% as suas vendas totais para os 12,6 mil milhões de euros. Este crescimento foi impulsionado pela forte liderança de preço, pela intensidade e atractividade das promoções e pelo aumento em 5,8% do like-for-like (LFL), que, combinados com uma gestão certeira do mix de margem, permitiram que a Companhia mantivesse a sua margem EBITDA estável nos 7,3%. Com uma contribuição para o EBITDA consolidado de 918 milhões de euros, a Biedronka permanece o principal motor de rentabilidade do Grupo, num ano de desempenho a todos os títulos notável, apesar da perda adicional de 13 dias de vendas, que somam aos 21 de encerramento obrigatório ao domingo registados em 2018.

Para a Hebe, 2019 ficará na história como o ano em que atingiu o breakeven ao nível do EBITDA. Mesmo com o impacto da perda de mais 13 domingos, a Companhia aumentou fortemente as vendas em 24,9% para os 259 milhões de euros, beneficiando também das 46 novas lojas abertas em 2019 e da operação de e-commerce, lançada em Julho, e que contribuiu positivamente para o reforço da notoriedade e da posição competitiva da insígnia no mercado polaco.

O Pingo Doce e o Recheio reforçaram as suas quotas de mercado, com excelentes desempenhos numa economia em que a taxa de inflação se manteve muito baixa, o que é sempre um desafio exigente para um negócio de margens muito contidas e que exige um foco permanente na capacidade de se ser competitivo e simultaneamente inovador na oferta aos consumidores.

Para o Pingo Doce, cujas vendas LFL cresceram 2,5%, foi um ano histórico em termos de EBITDA, que atingiu os 200 milhões de euros, 6,4% acima do ano anterior e com a respectiva margem a cifrar-se nos 5,1%. As vendas totais subiram 2,9% para os 3,9 mil milhões de euros, reflectindo a contribuição das nove lojas abertas no ano (quatro com o conceito de conveniência Pingo Doce & Go), que absorveram parte dos 143 milhões de euros investidos pela Companhia em 2019.

O Recheio superou, pela primeira vez, em 2019, a fasquia dos mil milhões de euros de vendas totais (+2,7% do que em 2018), beneficiando de um crescimento LFL de 3,2%. Dos 25 milhões de euros que investiu no ano,  parte foi alocada à profunda remodelação da loja de Aveiro. A Companhia alcançou um EBITDA de 55 milhões de euros, 4,6% acima de 2018, melhorando a respectiva margem para 5,5%.

Na Colômbia, onde o ambiente se manteve fortemente concorrencial, a Ara confirmou a inflexão da tendência de perdas geradas ao nível do EBITDA, que se cifraram em 62 milhões de euros no ano, o que equivale, em euros, a uma redução de 15% face a 2018. A contenção das perdas conseguiu-se apesar do investimento de 98 milhões de euros realizado em 85 novas lojas e dois Centros de Distribuição, assim como do reforço da aposta em preço para acelerar o crescimento do LFL, que, no ano, se cifrou em 17,6%. As vendas totais cresceram 37,9% em moeda local, para as quais contribuiu muito positivamente a implementação do novo modelo organizacional, que confere maior autonomia, flexibilidade e competitividade às regiões.

Enquanto Grupo, continuámos também a investir na área Agro-Alimentar, que aumentou a sua produção nos três negócios: lacticínios, aquacultura e carne bovina da raça Angus. Neste último caso, quero destacar as certificações obtidas pelas nossas explorações em matéria de bem-estar animal e o facto de adoptarmos os mais elevados standards quer em matéria de alimentação dos animais quer da gestão da sua saúde em todas as etapas do ciclo de vida.

Os resultados conseguidos nos países onde operamos foram alcançados num ambiente extremamente competitivo, em que impomos a nós próprios a pressão de sermos melhores todos os dias, com um foco especial nas questões relacionadas com a sustentabilidade, na medida em que estamos bem conscientes de que a dimensão dos desafios sociais e ambientais que se colocam nos obriga a uma verdadeira luta contra o tempo.

Já em 2020, no encontro do Fórum Económico Mundial, realizado em Davos, a matriz de riscos globais foi, literalmente, tomada pelos riscos ambientais, que ocupam todos os lugares do top 5 em termos de probabilidade e três em termos de impacto (desastres naturais, perda de biodiversidade ou falhanço nas políticas climáticas). A divulgação da mais recente edição do Global Risks Report coincidiu com a altura em que foram conhecidos os dados científicos que mostram que a última década foi a mais quente de sempre registada na Terra.

Isto tem de nos convocar a agir, de forma determinada e comprometida. É o que as nossas Companhias têm feito, como comprova a presença de Jerónimo Martins em mais de 60 índices internacionais de sustentabilidade, que reconhecem as empresas com as melhores práticas nestas matérias.

No momento em que escrevo, acabamos de saber que entrámos, pela primeira vez, no TOP 50 do ranking Global Powers of Retailing 2020, um estudo da consultora internacional Deloitte que lista as 250 maiores empresas de retalho a nível mundial. Entre os retalhistas alimentares ocupamos o 33.º lugar e, se considerarmos apenas a Europa, estamos posicionados em 16.º.

Ao mesmo tempo, recebemos do Carbon Disclosure Project a avaliação que nos coloca como o único retalhista alimentar do mundo a pontuar no nível de Liderança (A-) na gestão das quatro commodities relacionadas com o risco de desflorestação (óleo de palma, soja, madeira e papel e carne bovina). Isto significa que levamos a sério o compromisso, que assumimos no âmbito do The Consumer Goods Forum (CGF), de chegar ao final de 2020 com “Desflorestação Líquida Zero”. No que diz respeito às alterações climáticas, menos de um terço dos retalhistas mundiais obtiveram uma avaliação ao nível da que conseguimos: A-.

"Estamos presentes em mais de 60 índices internacionais de sustentabilidade, que reconhecem as empresas com as melhores práticas nestas matérias."

Penso, por isso, que temos razões para estarmos satisfeitos com o que conseguimos em 2019 em todas as frentes, e que nos permite enfrentar 2020 com a confiança necessária para continuar a fazer mais e melhor.

O meu pai, que nos deixou no ano que passou, estará certamente orgulhoso do que fizemos juntos por este Grupo a cuja construção e liderança ele dedicou a sua vida.

Aos colaboradores do Grupo Jerónimo Martins, agradeço a competência, a dedicação e a lealdade que nos permitiram entregar mais um ano bem conseguido, e a força interior que demonstraram num ano também emocionalmente difícil.

Pessoalmente, quero agradecer a confiança na gestão demonstrada pelos nossos accionistas, em especial o acionista maioritário, a família que represento e cujo apoio, que fazemos sempre por merecer, tem sido verdadeiramente essencial.

Uma nota final de apreço pelos meus colegas no Conselho de Administração, nas Comissões Especializadas e na Direcção Executiva do Grupo. O seu conhecimento, experiência e compromisso têm-me permitido tomar melhores decisões e somam muito valor ao trabalho colectivo que é o segredo por detrás dos resultados que as próximas páginas apresentam.

Pedro Soares dos Santos

Presidente e Administrador-Delegado

Nota: Para garantir a comparabilidade directa, as referências aos resultados do Grupo e das suas subsidiárias não incorporam o efeito da adopção da IFRS16.

2019 em Revista

Este foi um ano de crescimento. Registámos vendas recorde e reforçámos quotas de mercado.

O que fizemos

Consulte os principais indicadores que mostram o desempenho do Grupo no último ano.

Como fazemos a diferença

Conheça aqui os nossos principais destaques de 2019 na área da sustentabilidade.

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