Os efeitos da pandemia e das medidas restritivas à circulação de pessoas e à actividade de negócios considerados não essenciais afectou bastante a Hebe, que tem praticamente metade das suas lojas localizadas em centros comerciais, onde o tráfego caiu expressivamente mesmo quando não estavam encerrados. Num ano em que também as interacções sociais em presença diminuíram fortemente, as vendas like-for-like da Hebe caíram 10,3%. 2020 foi um ano de transformação para a Hebe, que descontinuou o seu negócio de farmácias e viu o seu canal de comércio electrónico, lançado em Julho de 2019, assumir um papel fundamental na mitigação parcial do impacto negativo da pandemia sobre as vendas. É deste canal, que permitirá muito em breve à Companhia vender internacionalmente, que se espera o maior dinamismo de crescimento nos próximos anos.
O Pingo Doce e o Recheio foram, sem dúvida, os negócios do Grupo que a crise mais afectou. Depois de, em 2019, terem registado excelentes desempenhos e reforço das suas quotas de mercado, a pandemia atingiu-os com uma enorme violência. As medidas de combate à progressão dos contágios que Portugal implementou e a queda drástica do turismo penalizaram sobremaneira negócios que dependem fortemente da frequência de compra e da actividade de restaurantes, cafés, takeaway e food service.
Demonstrando uma enorme combatividade e espírito de resistência, o Pingo Doce nunca desistiu de tentar chamar às suas lojas os clientes que o medo da infecção empurrou para lojas maiores e com menos intensidade de tráfego. Apesar da força promocional e de inovação no sortido, no ano as vendas reduziram-se para 3,9 mil milhões de euros e o like-for-like (excluindo combustível) contraiu 2,2%. O EBITDA decresceu 15,4%, a acusar o impacto dos custos adicionais, que a queda das vendas não permitiu diluir, impostos pela necessidade de travar a evolução da pandemia e mitigar os seus efeitos socio-económicos.
O Recheio, que em 2019 havia superado pela primeira vez a fasquia dos mil milhões de euros de vendas totais, teve em 2020 o seu annus horribilis. Com o forte condicionamento e/ou prolongado encerramento de cafés, restaurantes e hotéis, a Companhia perdeu uma das suas principais fontes de receitas. As vendas caíram 15,9%, o like-for-like encolheu 15,8% e o EBITDA ficou 45,6% abaixo do ano anterior.
Na Colômbia, onde a pandemia está a fazer disparar os indicadores de pobreza e sofrimento social, a Ara reforçou ainda mais a competitividade da sua proposta de valor junto dos consumidores, acabando o ano com um crescimento do like-for-like a dois dígitos (+10,2%). A Companhia intensificou também a disciplina de custos, o que lhe permitiu reduzir em 8 milhões de euros as perdas geradas ao nível do EBITDA, progredindo no caminho com vista à rentabilidade.
Enquanto Grupo, continuámos também a investir em Portugal na área Agro-Alimentar, onde nos orgulhamos de adoptar as melhores práticas em matéria de sustentabilidade nas áreas de produção a que nos dedicamos: lacticínios, aquacultura e carne bovina da raça Angus. Em 2020, iniciámo-nos também na agricultura, onde faremos uma aposta crescente e selectiva na produção biológica, em linha com a visão que guia a estratégia europeia “Do prado ao prato”.
Os resultados conseguidos nos países onde operamos foram alcançados num ambiente extremamente difícil, com múltiplas fontes de pressão, a começar pelo imperativo ético de responder às necessidades sociais que vimos emergir e agudizar-se, e de continuar a fazer progressos nos nossos compromissos ambientais.
Os riscos ambientais, que já em 2020 haviam ocupado os lugares cimeiros da matriz de riscos globais do Global Risks Report do Fórum Económico Mundial, devem inquietar-nos ainda mais agora que sabemos melhor do que nunca como a protecção da natureza e dos ecossistemas se constitui num escudo contra as ameaças pandémicas.
Depois de uma década que foi a mais quente de sempre registada na Terra, entrámos na década decisiva da acção climática.
No Grupo estamos empenhados nesse combate, como o estamos na protecção da biodiversidade na terra e no mar, na luta contra a poluição, designadamente por plástico, na utilização responsável dos recursos naturais, no combate ao desperdício alimentar, na gestão correcta dos resíduos. Isto enquanto nos orgulhamos de desenvolver e promover produtos alimentares que promovem a saúde humana, tendo em atenção a natureza e as origens dos seus ingredientes, o equilíbrio dos seus processos produtivos, o seu impacto ecológico e socio-económico.
Em 2020, apesar da pandemia e também por causa dela, reforçámos a nossa actuação enquanto cidadãos corporativos responsáveis nos países onde operamos.
Fechámos o ano com 33 analistas ESG (Environment, Social and Governance) a acompanharem directamente as nossas actividades e a avaliarem o nosso desempenho (o que compara com 27, no final de 2019). Fomos incluídos em 30 novos índices, elevando para 91 (incluindo índices específicos) o número total em que somos constituintes. Um dos novos índices que integrámos é o Bloomberg Gender Equality Index, no qual somos a única Companhia baseada em Portugal do nosso sector a estar representada (o sector é representado no índice apenas por 25 empresas a nível mundial, de um total de 380 de 11 sectores de actividade que incluem este índice). Outro exemplo de nova presença é o Euronext® Eurozone ESG Large 80 Index, que integrámos em Junho de 2020.
Mantivemos ou melhorámos o nosso desempenho nos vários índices em que estamos listados e orgulha-nos particularmente a avaliação A- (que corresponde à implementação de melhores práticas) obtida no CDP Forests em todas as commodities associadas com o risco de desflorestação: óleo de palma, soja, carne de vaca, papel e madeira. Somos o único retalhista alimentar a nível mundial a ter conseguido obter este nível quer em 2019 quer em 2020. Também obtivemos a avaliação A- no CDP Climate Change 2020, que é, segundo o relatório do CDP, «mais elevada do que a média regional europeia de C, e mais elevada do que a média de C do sector do retalho de conveniência». É gratificante também para nós termos subido para o percentil 98 entre todas as empresas da indústria do retalho alimentar avaliadas no FTSE4Good Indexes.